sábado, 5 de setembro de 2009

O dia em que minha Mãe virou Deus


Aqueles que nos deixam e vão para algum lugar desconhecido... Um lugar que não podemos ir. Estavam aqui, agora mesmo. Eram como nós. Falavam de outros que foram, como nós agora falamos deles. Falavam como um dia outros falarão de nós no dia em que também seremos lágrima e ausência, como eles, que estavam aqui, há pouco. E agora, onde estão afinal os que vão? Para onde vão? Lugar nenhum? O que mudou? Mas eles são os mesmos de sempre, afinal! É um problema espacial? É um problema de falta de comunicação, apenas? Então por que os vemos diferentes, como parte de um mundo, que não é nosso agora? Se a vida toda eles fizeram parte de nós. O que nos separa deles? Eles não são mais como nós?
Quando minha mãe passou a fazer parte deles, queria que ela me explicasse como é ser um dos que vão. Só ela poderia me explicar como é. E, de repente, ela que não se calava nunca diante de questionamentos, desta vez teria que se render ao mistério desta partida e calar-se de forma avassaladora. Tenho certeza que ela nunca me deixaria nesta dor cercada de dúvidas e confusões. Mas agora que ela é um deles, o que mudou? Terá que deixar de me responder contra sua própria vontade? Ou agora ela se sente, surpreendentemente diferente e confortável nesse lugar e observa, serena e resignada, minha perplexidade desesperada?
Não! Ela não é um deles. Nunca será. Qualquer um, menos ela. Estava aqui, agora mesmo, comigo. Sempre esteve. Sempre estará.
Como pode o que é apenas um corpo mandar no que irá acontecer nas nossas almas? Por que quando este corpo pára, temos que parar junto com ele? Uma alma tão grande não é capaz de vencer a vulnerabilidade dessa maquina cheia de mecanismos falíveis? Como pode um aparelho respiratório, circulatório ou reprodutor de repente mandar-nos embora deste mundo? Quem manda aqui, afinal? É o corpo? Mas se o corpo é apenas um corpo, por que não nos deixam as almas e mandam nossos corpos para este tal lugar misterioso, então? O abraço vem do corpo? E a voz, vem da alma?Se tivesse que fazer uma escolha fatal,acho que optaria por ouvir o sentimento da minha mãe do que abraçá-la.. Se bem que ela sempre foi do tipo de pessoa que sabia bem abraçar com a alma.
É tão estranho não ouvi-la. Este é o verdadeiro corte do cordão umbilical.
Agora, também eu faço parte de um outro mundo. O mundo da vertigem. Não sou do mundo dos que ficam. Sou do mundo dos que são “pessoa qualquer”. Antes, havia um mundo, neste mundo, onde eu era a pessoa mais importante do mundo. Era o mundo de minha mãe. Hoje, sou apenas mais um. Não mais prestígio, regalia e privilégio. Não mais amor incondicional. É o fim da indulgência eterna. Não estou mais blindada por esta força heróica e absoluta, que é o amor materno. Não tem perdão. É hora de seguir sozinha, peito aberto, vulnerável, medo e solidão.
Olho para a foto e tenho vontade de mergulhar no quadro, reviver de um jeito como se soubesse que existe fim. Todos sempre sabemos, mas nunca conseguimos saber suficientemente. A consciência do fim ficou ali, anestesiada, em um canto qualquer, evitando a dor. Como trazê-la para o agora novamente? Lembranças não estão a sua altura. Eu a quero agora, por todo o meu presente e futuro. Onde estará tudo o quê vivemos antes? Não foi minha imaginação, eu sei. Estou aqui, como prova cabal. Assim como quando olhamos o mar e acreditamos em Deus, olho para mim mesma e acredito em minha mãe. Ela está em mim, assim como Deus está em cada coisa que criou. Também não sabemos onde Deus está. Depois que ela tornou-se essa força invisível, só rezo para ela. Deus tem tantas criações e minha mãe só tem uma, que sou eu. Dizem que Deus está em tudo.
Quando vejo e sinto coisas, e até pessoas, que me fazem bem, penso que lá está ela novamente, para consolar-me de sua própria partida.
De repente, vejo que talvez sempre existirá este mundo onde sou a pessoa mais importante do mundo.
Pois não existe o dia em que minha mãe se foi para um lugar desconhecido. Este lugar sou eu. Eu, que também passei a ser um lugar um tanto desconhecido, depois disso. Desconhecida de mim mesma, mas talvez não tão sozinha quanto supunha. Sim. Peito aberto, vulnerável, medo...Mas é hora de seguir com fé, depois do dia em que minha mãe virou Deus.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CURSO DE DRAMATURGIA E TEATRO

CURSO DE DRAMATURGIA E TEATRO
Com a atriz e dramaturga MÁRCIA CERQUEIRA
(Autora do sucesso “Surto a Dois”)

Local: CASA DE CULTURA LAURA ALVIM
Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema

Aprenda dramaturgia na prática!
O curso visa construir um ator-criador e um autor-ator.

Turma de 5ªfeira : 13:00 às 16:00h (Início:05/03/2009)
Turma de sábado : 13:00 às 16:00h (Início: 07/03/2009)

R$ 190,00 P/ MÊS
DRAMATURGIA E INTERPRETAÇÃO EM UM SÓ CURSO!

*No final do curso haverá um espetáculo, escrito e interpretado pelos alunos, aberto ao público.
*Certificado de conclusão.
* Orientação profissional.

RESERVAS DE MATRÍCULAS E INFORMAÇÕES:
Tels: 3281-9691 / 9656-3928
e-mail: dramaturgiaeteatro@yahoo.com.br

O pagamento da 1ª mensalidade deverá ser feito no dia da matrícula.

Comunidade “Márcia Cerqueira”:
http://www.orkut.com.br/main#community.aspx?cmm=5883394

Comunidade do “Curso de Dramaturgia e Teatro”
da Casa de Cultura Laura Alvim :
http://www.orkut.com.br/main#community.aspx?cmm=81390753

Comunidade: "A mulher Ideal- A peça":
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=81262865

Comunidade "Eu vi Surto a Dois":
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=998508

Comunidade do "Curso de Música da Casa de Cultura Laura Alvim"
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=45423380
(Alunos do "CURSO DE DRAMATURGIA E TEATRO COM MÁRCIA CERQUEIRA" tem 20% de desconto no CURSO DE MÚSICA)